A verdadeira criação de valor ocorre quando as empresas repensam suas estratégias
por ABES – 26 de novembro de 2024
Imagem: Shutterstock
A transformação digital, com sua promessa de inovação disruptiva e agilidade, tem sido um imperativo estratégico em diversos setores, especialmente no segmento de serviços. No entanto, para muitas organizações, o sucesso dessa transformação envolve mais do que a adoção de novas tecnologias. É um processo que demanda uma reavaliação profunda do ciclo de valor, onde tanto a criação quanto a destruição de valor são dinâmicas inevitáveis.
No contexto da transformação digital, o ciclo de valor não se limita à implementação de tecnologias avançadas, como automação, big data ou inteligência artificial. A verdadeira criação de valor ocorre quando as empresas repensam suas estratégias, focando na experiência e no engajamento dos clientes, na flexibilidade organizacional e na otimização de processos. Como destacado por McKinsey, líderes em maturidade digital alcançam resultados superiores com um crescimento até cinco vezes maior no EBITDA em comparação às empresas que ainda estão em estágios iniciais da transformação (Martins et al., 2019).
Esse ciclo de valor se manifesta em diferentes dimensões, como processos internos, comunicação e gestão de clientes. Na prática, essa abordagem abarca desde a automação de tarefas repetitivas até a personalização de interações com clientes, oferecendo uma experiência de consumo mais fluida e adaptada. No entanto, ao implementar essas mudanças, as empresas enfrentam o risco de destruição de valor, que pode ocorrer quando as inovações geram complexidade ou instabilidade na experiência do cliente.
Um dos desafios fundamentais é a adaptação cultural dentro das empresas. Para que a transformação digital seja efetiva é fundamental que os funcionários e líderes estejam alinhados com a nova visão estratégica. Rogers (2017) enfatiza que o sucesso não depende exclusivamente de tecnologia, mas de uma mudança cultural profunda, onde a flexibilidade e o aprendizado contínuo tornam-se normas institucionais.
Outro aspecto pertinente é a necessidade de integração de novos modelos de negócios e conectividade em tempo real, que oferecem às empresas dados e agilidade na tomada de decisões. Isso representa um valor significativo para as organizações, mas requer uma abordagem estratégica para equilibrar riscos e oportunidades. Por exemplo, a digitalização de processos críticos aumenta a eficiência, mas também demanda medidas de gestão de riscos robustas.
A figura a seguir ilustra os dois níveis que estruturam o ciclo de valor: o nível de produção dos efeitos e o nível de análise dos efeitos. No primeiro nível, as etapas proposição, comunicação, entrega e percepção são interligadas, indicando um fluxo contínuo, como uma linha de produção, que resultará nos efeitos de criação ou destruição de valor. Os efeitos dependem de como o cliente percebe e interage com o valor proposto e entregue.
Esse valor final é então capturado, gerando retorno para a organização, seja positivo (criação de valor) ou negativo (destruição de valor). Ou seja, a forma como a organização orquestra a sua transformação digital impacta nos resultados financeiros e esse processo pode ser mapeado ao longo do ciclo de valor.
A transformação digital é, portanto, um ciclo contínuo de adaptação. As empresas que conseguem equilibrar inovação com práticas de gestão bem estabelecidas estão mais bem posicionadas para criar valor a longo prazo. Em contrapartida, aquelas que negligenciam o impacto cultural e os riscos associados ao uso intensivo de tecnologia podem encontrar dificuldades em capturar esse valor, ou mesmo contribuir para sua destruição, revelando o lado negro da transformação digital.
Assim, a chave para uma transformação digital bem-sucedida reside na capacidade de as organizações integrarem novas tecnologias de forma estratégica, com uma visão centrada no cliente e na resiliência operacional. Em um mundo cada vez mais digital, o valor gerado por essas iniciativas depende diretamente da capacidade das empresas de navegar nas complexidades e incertezas inerentes ao processo de transformação.
Darci de Borba é pesquisador do Think Tank da ABES, técnico de planejamento e pesquisa no Ipea, Doutorando em Administração na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) e Mestre em Administração pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, os posicionamentos da Associação.
*Artigo originalmente publicado no IT Forum em 26 de novembro de 2024
Referências
Martins, H., Dias, Y., Castilho, P., & Leite, D. (2019). Transformações digitais no Brasil: insights sobre o nível de maturidade digital das empresas no país. Mckinsey&Company, 3–32.
Rogers, D. L. (2017). Transformação digital : repensando o seu negócio para a era digital. In Autêntica Business (1st ed., Vol. 1). Autêntica Business.