No ano passado, o país investiu R$243, 6 bilhões em software, equipamentos e serviços, alta de 3% sobre o resultado de 2021, bem inferior ao crescimento de 17,4% observado em 2021 ante 2020.
Por Daniela Braun
O ritmo de investimentos do Brasil em tecnologia ficou mais lento em 2022, após o aumento da demanda durante o auge da pandemia da covid-19.
No ano passado, organizações e consumidores brasileiros investiram R$243,6 bilhões (US$ 45,2 bilhões cosiderando a cotação do dólar a R$5,39) em software, equipamentos e serviços, alta de 3% sobre o resultado de 2021, bem inferior ao crescimento de 17,4% observado em 2021 ante 2020, segundo pesquisa da Associação Brasileira das Empresas de Software, feita pela consultoria IDC.
No mundo, o investimento de R$16,7 trilhões (US$ 3,11 trilhões) em 2022, avançou 7,4% ante um crescimento de 11% em 2021.
Os cenários econômicos local e global derrubaram a projeção feita no início de 2022 de alta de 14,3% nos investimentos em tecnologia no ano passado. A pesquisa realizada pelo IDC em 89 países consultou 150 diretores de tecnologia no Brasil e inclui vendas de dispositivos de consumo como celulares e computadores pessoais.
A projeção otimista para 2022 não contava com a guerra entre Rússia e Ucrânia, iniciada em fevereiro do ano passado, ou com um cenário macroeconômico bastante instável. A queda nas vendas de dispositivos como smartphones e computadores pessoais também puxou o resultado para baixo.
“No começo de 2022, os diretores de tecnologia vinham de um ano de expectativa no crescimento nos investimentos no setor, mas em fevereiro começou a guerra na Ucrânia, seguida por um aumento na inflação no mundo todo”, diz Jorge Sukarie, Conselheiro da ABES. “Além disso, tivemos um ano eleitoral com um pleito bastante polarizado, câmbio instável e uma copa do mundo no fim do ano”, observa.
A projeção da entidade para 2023, considerando menos volatilidade cambial e mais estabilidade na economia, é de alta de 5,4% nos investimentos em tecnologia no país. “Este ano temos menos previsão de instabilidade no Brasil e a economia global vai continuar girando mesmo com a guerra na Ucrânia”, afirma Sukarie.
O resultado de 2022 fez o Brasil perder duas posições no ranking global dos maiores investidores de tecnologia, ficando na 12ª posição. A liderança é dos Estados Unidos, que investiram R$6,4 trilhões (US$1,9 trilhão), seguidos pela China, com investimento de R$1,9 trilhão (US$ 357 bilhões).
Sukarie destaca que, aos poucos, o país vai ganhando pontos em maturidade de investimentos em tecnologia, já que o valor destinado a equipamentos (hardware) pessoais e corporativos vem perdendo espaço para investimentos em software e serviços.
Em 2022, o país investiu R$ 133,1 bilhões em equipamentos, 54,6% do total investido no ano, ante uma fatia de 57,7% em 2021.já em software foram R$ 63 bilhões, 25,8% do investimento total no setor em 2022, acima da fatia de 24,6% em 2021. Em serviços, o investimento de R$ 47,4 bilhões, representou 19,5% do total e também cresceu ante 17,7% em 2021
“Estamos cada vez mais caminhando para a média mundial, de 45% investidos em hardware, 18% em software e 26% em serviços”, diz o diretor da Abes. Ele lembra que a fatia de equipamentos no país era de 67% dos investimentos em tecnologia em 2004, quando a entidade iniciou a pesquisa.
0s setores de telecomunicações e financeiro representam juntos, mais da metade do valor investido em software e serviços no Brasil (51,6%). Em 2022, empresas de telecomunicações investiram R$ 28,7 bilhões, alta de 4,9% sobre 2021, e o setor financeiro aplicou R$ 28,4 bilhões, 6,8% acima da verba direcionada em 2021.
0 varejo voltou a investir em software e serviços após um recuo de 2,6% em 2021. Em 2022, o investimento foi de R$ J 0,7 bilhões, alta de 18,3% sobre o ano anterior.
Para o conselheiro, em 2023, as empresas investirão em tecnologia e iñovaçáo, mas “em valores menores”.
Artigo originalmente publicado no periódico Valor Econômico em 15 de março de 2023.