Cenário merece atenção, especialmente num contexto global em que a tecnologia e a inovação são essenciais para o crescimento econômico
por ABES – 27 de novembro de 2024
Imagem: Shutterstock
A internacionalização é um tema presente para empresas de todo o mundo. Já que, com o acesso remoto, está cada vez mais fácil concorrer com empresas localizadas geograficamente distantes. Mas, para sobreviverem aproveitam as oportunidades que vão além daquelas que são oferecidas no mercado do país em que estão localizadas.
Quando é analisado os números do setor de software brasileiro, é possível perceber que a internacionalização merece atenção, especialmente num cenário global em que a tecnologia e a inovação são essenciais para o crescimento econômico. No entanto, essa jornada não é isenta de desafios.
Segundo os dados da ABES (Associação Brasileira de Empresas de Software), apresentados no Estudo de Mercado Digital lançado em 2024, o mercado mundial de Software e Serviços em 2023 foi de US$1.800 bilhões, sendo que o mercado interno do Brasil é de US$26,863 bilhões o que representa cerca de 1,5% do mercado global de Software e Serviços.
Ainda analisando os dados do setor, do total dos US$26.863 bilhões de dólares o mercado de software representa US$ 15.260 milhões (56,8%) e o mercado de serviços representa US$ 11.603 (43,2%).
Deste universo com um mercado de exportação tímido de apenas US$809 milhões em 2023. Sendo US$ 225 milhões para Software (0,84%) e US$ 584 milhões para serviços (2,2%).
Mas porque os nossos números de exportação de software e serviços são tão pequenos quando comparado ao mercado internacional do setor que é de US$1.800 bilhões?
A primeira explicação é que as empresas brasileiras de software e serviços há décadas voltaram os seus esforços para o mercado nacional. Essa realidade precisa mudar já que, limita o seu potencial de faturamento ao mercado brasileiro que, como apresentado anteriormente, representa apenas 1,5% do mercado global do setor. Além disso, existem barreiras a serem transpassadas pelas empresas brasileiras.
A primeira barreira que as empresas brasileiras enfrentam é a linguística e cultural, pois a fluência e a proficiência dos profissionais de TI brasileiros podem variar e afetar a comunicação em negociações internacionais.
Alguns outros fatores que as empresas brasileiras de TI precisam superar para terem êxito na sua estratégia de internacionalização são:
- Encontrar oportunidades de negócios no exterior;
- Estabelecer contatos com clientes no mercado externo;
- Encontrar informações para análise do mercado externo;
- Tempo dos gestores para pesquisar e analisar opções de entrada no mercado externo;
- Apoio do Governo (burocracia e carga tributária) e;
- Falta de Capital para financiar as estratégias para exportação.
Quando comparado ao mercado com empresas da Índia, país também emergente e reconhecido quanto a “exportação” de talentos na tecnologia, percebe-se que as estratégias do país foram voltadas para o mercado internacional, tanto na preparação de mão de obra qualificada como também nas táticas de empresas de tecnologia indianas.
Estudando o histórico do setor de TI nos dois países pode-se dizer que a maior diferença esteve na estratégia das empresas e profissionais de TI da Índia de focar no mercado externo e as empresas e profissionais de TI do Brasil de focar no mercado interno.
Apesar dos desafios e o histórico das empresas brasileiras do setor, atualmente este quadro vem mudando, é cada vez mais comum encontrarmos notícias como: “Escassez de mão de obra impulsiona o Brasil como a ‘nova Índia’ do setor de tecnologia” (fusoesaquisicoes.com de 20 de outubro de 2024) ou ainda “Brasil é a nova Índia na prestação de serviços de tecnologia para o exterior (O Globo, outubro de 2024).
Estes artigos tratam o Brasil como o novo polo global de tecnologia, comparando os nossos profissionais da área aos reconhecidos talentos indianos. Esta mudança ocorreu por causa da pandemia, situação em que prestadoras de serviços brasileiras enfrentaram menos dificuldades que aqueles de origem indiana, além da qualidade da nossa mão de obra, afinidade cultural com outras regiões do planeta e menor diferença de horário.
Ao focar em soluções específicas, as empresas brasileiras podem se diferenciar e criar uma demanda estável em mercados internacionais. A internacionalização das empresas de software do Brasil é um caminho promissor, com desafios, mas também de grandes oportunidades. O talento das empresas e mão de obra brasileira, aliado a estratégias eficazes conjuntas entre governo, empresas e instituições de ensino, pode transformar o Brasil em um importante exportador de soluções tecnológicas.
Evelin Priscila Trindade é pesquisadora do Think Tank ABES, pós-doutoranda desde 2023 e doutora desde 2021 em Engenharia e Gestão do Conhecimento pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), com foco na internacionalização de empresas intensivas em conhecimento. As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, os posicionamentos da Associação.
*Artigo originalmente publicado no IT Forum em 26 de novembro de 2024