Por Leticia Lewis -25 de agosto de 2025
O atual posicionamento do governo dos Estados Unidos quanto à imposição de tarifas elevadas para seus parceiros comerciais reforçou a necessidade de o Brasil avançar em iniciativas que promovam a diversificação de suas exportações. Esse esforço deve abranger o aumento da participação de setores de alto valor agregado, como produtos e serviços digitais, bem como a diversificação dos destinos das exportações. Nesse contexto, o México pode ser um parceiro estratégico para o Brasil.
Através do Mercosul, o Brasil tem buscado acordos comerciais com diferentes blocos e países, como a União Europeia e o Canadá, para diversificar suas exportações. Com o México, o Brasil já tem um histórico de integração econômica através do Mercosul e acordos bilaterais firmados há mais de duas décadas. No entanto, esses acordos são limitados ao comércio de bens industriais e não contemplam áreas como serviços e inovação, centrais na economia digital.
Atualmente, Brasil e México discutem um novo acordo bilateral voltado à expansão de suas relações comerciais e fortalecimento do setor de inovação, que é uma área estratégica para ambos os países. Tal expansão seria muito importante. Além dos benefícios econômicos de um acordo comercial ampliado, iniciativas conjuntas voltadas à economia digital também podem ajudar a fomentar a inovação e o crescimento da relevância dos serviços digitais na economia dos dois países.
O Brasil é um dos principais polos de inovação da América Latina, com soluções em inteligência artificial e outras tecnologias emergentes sendo desenvolvidas localmente. O país também abriga um ecossistema robusto de startups em setores como finanças (FinTechs), agricultura (AgTechs), saúde (HealthTechs) e cidades inteligentes. O México, por sua vez, é competitivo em áreas complementares, como manufatura avançada, software embarcado e integração em cadeias globais de valor. Além disso, o México conta com profissionais qualificados em engenharia e inovação aplicada.
Essa complementaridade abre espaço para cooperação estratégica entre Brasil e México, que pode gerar benefícios tanto por meio de expansão de acordos comerciais quanto por outras formas de colaboração em áreas prioritárias. Por exemplo, os dois países podem avançar no compartilhamento de boas práticas em políticas públicas, na promoção de startups e em parcerias público-privadas voltadas à inovação, incluindo inteligência artificial. Há também potencial para coordenação na adoção de normas técnicas globais voluntárias e certificações interoperáveis em áreas como proteção de dados, cibersegurança e adoção responsável da inteligência artificial.
Outro campo com alto potencial de colaboração é o desenvolvimento de capital humano, essencial para a economia digital. Brasil e México enfrentam déficits semelhantes de profissionais em áreas como desenvolvimento de software, segurança da informação e inteligência artificial. Uma agenda conjunta voltada à qualificação de profissionais, através de programas de intercâmbio, formação e capacitação, pode fortalecer a inclusão digital e elevar a produtividade em ambos os países.
Uma parceria sólida entre o Brasil e o México pode ampliar o acesso de exportações brasileiras a um mercado relevante, fortalecer a inserção do Brasil em cadeias globais de valor e consolidar a participação de setores de alto valor agregado, como serviços digitais, nas exportações do país.
Diante desse cenário, é fundamental que o Brasil trate com prioridade o aprofundamento da cooperação com o México para que o país possa alavancar a oportunidade estratégica oferecida por tal colaboração, tendo em vista a nova conjuntura do comércio internacional.

Leticia Lewis, Sócia, Innova Assuntos Públicos Co-Líder do Grupo de Trabalho LATAM, ABES
*Artigo originalmente publicado no TI INSIDE em 25 de agosto de 2025


