Por Jorge Sukarie | 24 de julho de 2025
O conceito de transformação digital não é mais abstrato. Em setores estratégicos da economia brasileira — como saúde, educação, finanças e agronegócio —, ele se materializa em práticas concretas de inovação, impulsionadas por dados, automação, inteligência artificial (IA) e decisões estratégicas. O mais recente estudo da Associação Brasileira das Empresas de Software (ABES) em parceria com a International Data Corporation (IDC) revela como esses setores estão reagindo de forma distinta — mas cada vez mais intensa — à pressão por eficiência, escalabilidade e segurança.
A pesquisa mapeou a percepção de executivos e tomadores de decisão em empresas com mais de 100 colaboradores. A amostra foi intencionalmente dividida entre os quatro setores citados, permitindo comparar realidades e ambições. O que se observa é um alinhamento crescente entre os desafios de cada área e o uso direcionado da tecnologia para enfrentá-los.
No setor financeiro, por exemplo, a transformação digital já é uma exigência regulatória. Governança, segurança e interoperabilidade de sistemas fazem da Tecnologia da Informação (TI) não apenas um diferencial, mas um requisito. É o setor que historicamente mais investe em tecnologia no Brasil, com foco em automação, IA preditiva, análise de riscos e cibersegurança. Esse perfil se reflete no estudo: empresas do segmento financeiro demonstram maior maturidade e intensidade no uso de tecnologias emergentes.
No agronegócio, a inovação ganha outras formas. Trata-se de um setor que, apesar de tradicionalmente associado à produção rural, vem acelerando a digitalização em áreas como monitoramento climático, gestão de insumos, rastreabilidade e logística. Ferramentas baseadas em inteligência artificial e Internet das Coisas (IoT) já começam a alterar o dia a dia de grandes produtores e cooperativas, promovendo aumento de produtividade com menor impacto ambiental.
A saúde é, por sua vez, um setor em transição. A pandemia impulsionou investimentos em prontuários eletrônicos, telemedicina e interoperabilidade de dados. Agora, o desafio está em consolidar essas soluções e integrá-las aos processos clínicos e administrativos com foco na segurança e experiência do paciente. A pesquisa mostra que há forte intenção de ampliar o uso de IA para análise diagnóstica, triagem automatizada e suporte à decisão clínica.
Já na educação, a tecnologia surge como uma resposta à fragmentação do sistema e à necessidade urgente de engajamento. Plataformas digitais, gestão inteligente de currículos e personalização da aprendizagem aparecem como tendências. O estudo indica que esse setor, embora com menor capacidade de investimento em comparação com os demais, tem alto potencial de impacto positivo quando a tecnologia é aplicada de forma estratégica.
Em comum, os quatro setores reconhecem a inteligência artificial como vetor central da inovação. De forma geral, mais de 90% das empresas entrevistadas já utilizam ou pretendem utilizar IA e IA generativa em até 12 meses. As aplicações variam conforme o setor, mas o movimento é claro: a tecnologia deixou de ser um apêndice e passou a integrar o núcleo das decisões estratégicas.
Esse mapeamento por setor oferece mais do que dados. Ele revela uma mudança cultural em curso, em que diferentes setores da economia reconhecem a tecnologia como instrumento para resolver problemas reais — e não apenas para “modernizar” sua imagem. O papel das lideranças empresariais, dos formuladores de políticas públicas e das associações setoriais será fundamental para ampliar esse movimento e torná-lo sustentável.

Jorge Sukarie, conselheiro da ABES.
O estudo completo pode ser acessado em: https://abes.com.br/dados-do-setor/
*Artigo originalmente publicado no TI Inside em 24 de julho de 2025