Por Daniela de Sá Jacobina Pires
Em um mundo que muda em ritmo acelerado, inovar deixou de ser uma escolha e tornou-se condição de sobrevivência para empresas de todos os portes e setores. Inovar requer mais do que boas ideias: exige estrutura, planejamento e acesso a instrumentos de apoio capazes de converter potencial em resultado. Nesse contexto, o fomento à inovação assume papel central, e associações setoriais e políticas públicas tornam-se agentes estratégicos ao conectar o setor produtivo com fontes de financiamento, governança e cultura de inovação.
O ecossistema brasileiro de inovação tem avançado, embora enfrente barreiras significativas. Muitas empresas concentram-se em inovações incrementais — melhorias de processos ou produtos — sem alcançar maturidade para desenvolver soluções verdadeiramente disruptivas. Parte desse desafio refere-se à dificuldade de articulação entre empresas, universidades, governo e investidores; outra parte está no desconhecimento ou na complexidade dos mecanismos de fomento disponíveis (incentivos fiscais, crédito reembolsável, subvenção) e na estrutura interna deficiente de gestão de inovação. Por exemplo, instrumentos como a Lei do Bem apontam que poucas empresas aproveitam incentivos à inovação por falta de governança e de compreensão dos requisitos técnicos.
O fomento é o elo que transforma a intenção inovadora em execução. Incentivos, crédito e subvenções reduzem risco e ampliam a capacidade de investimento das empresas. Contudo, o acesso efetivo a esses recursos depende de boas práticas organizacionais, tais como:
- Planejamento técnico-estruturado: os editais de fomento exigem projetos com especificação clara de entregáveis, barreiras tecnológicas, métricas e cronograma. Não basta a boa ideia;
- Governança interna de inovação: separar projetos de inovação do portfólio operacional, definir responsáveis, monitorar resultados e documentar aprendizado;
- Alinhamento às exigências de fomento: garantir que a proposta esteja alinhada a critérios de impacto, aplicabilidade e escala, além de atender aos requisitos formais;
- Parcerias e rede de inovação: a colaboração entre empresas, centros de pesquisa e instituições de ciência e tecnologia aumenta credibilidade, acelera execução e melhora o acesso a recursos.
Quando as empresas internalizam essas boas práticas, aproveitam melhor os instrumentos de fomento e geram resultados tangíveis a partir do seu potencial inovador: novos produtos, processos, serviços e modelos de negócio.
Apesar dos avanços, algumas frentes merecem atenção para ampliar o impacto do fomento no Brasil:
- Simplificação e previsibilidade: os processos de fomento precisam se tornar mais ágeis e previsíveis para favorecer a participação empresarial;
- Capacitação e cultura de inovação: empresas de todos os portes devem incorporar a inovação em sua governança e desenvolver rotinas, métricas e recursos humanos para tal;
- Integração e escala: ampliar a articulação entre empresas, startups, centros de pesquisa e órgãos de fomento, e preparar os projetos para escala e internacionalização.
Esses avanços dependem de continuidade, diálogo e de uma visão estratégica que entenda a inovação como política de Estado e vetor de crescimento sustentável, não como gasto ou mera otimização de custos.
Como exemplo de ferramenta de apoio à captação e estruturação de projetos de inovação, a ABES disponibiliza, em parceria com a ABGI Brasil, o Guia de Fomento à Inovação para o Setor de TIC ABES/ABGI — que reúne de forma acessível as principais linhas de financiamento, incentivos fiscais e fundos voltados à inovação. A ferramenta pode auxiliar empresas que já adotaram as boas práticas descritas e buscam acessar os instrumentos de fomento de forma mais eficaz.
Ao fortalecer o uso dos instrumentos de fomento e a cultura de inovação, o país amplia sua capacidade de competir em um mercado global cada vez mais orientado por dados, sustentabilidade e inteligência artificial — consolidando a inovação como um ativo nacional estratégico.

Por Daniela de Sá Jacobina Pires, coordenadora do Think Tank da Associação Brasileira das Empresas de Software (ABES)
*Artigo originalmente publicado no Guia do PC em 10 de dezembro de 2025


