A transformação nos modelos de trabalho refletem as mudanças mais amplas nos contextos econômicos e sociais
O futuro do trabalho está intimamente ligado à evolução e aplicação de novas tecnologias, que não apenas impulsionam mudanças significativas no ambiente profissional, mas também reconfiguram o contexto social de maneiras profundas e complexa. Em função dessas mudanças, profissões tradicionais serão gradualmente substituídas, mas surgirão novas oportunidades de emprego e desafios sem precedentes para o mercado de trabalho.
O conceito de “destruição criativa”, cunhado por Joseph Schumpeter, é útil para entender esse fenômeno. Ele descreve um processo de inovação no qual novos produtos e serviços substituem empresas e modelos de negócios estabelecidos, fomentando uma constante renovação na estrutura econômica.
Neste cenário de mudança, impulsionado pelo avanço tecnológico, a automação e a inteligência artificial se destacam como elementos que alteram de modo significativo a natureza do trabalho humano. Com essa evolução, o letramento digital torna-se essencial para uma participação eficaz na economia moderna.
Nesse ambiente de transformação, emergem profissões como especialistas em Inteligência Artificial, cientistas de dados, desenvolvedores de blockchain, especialistas em cibersegurança e criadores de conteúdo digital. Nesse mercado de trabalho, valoriza-se a combinação de habilidades técnicas com competências sociais, e destaca-se a importância da capacidade de adaptação e do aprendizado contínuo, que serão essenciais para garantir a empregabilidade das pessoas
A transformação nos modelos de trabalho, marcada pelo aumento do trabalho remoto e híbrido, bem como pela expansão da economia gig e do freelancing, refletem as mudanças mais amplas nos contextos econômicos e sociais referidas anteriormente. Essas alterações apresentam desafios significativos, abrangendo desde questões regulatórias até o impacto social e econômico dessas novas formas de emprego. A adoção desses modelos inovadores de trabalho apresenta uma reestruturação do espaço e do tempo de trabalho, apontando para uma maior flexibilidade do conceito tradicional de emprego.
No entanto, a transformação digital também expõe preocupações importantes relativas ao seu impacto social e ético, especialmente a desigualdade no acesso às tecnologias e às oportunidades que elas oferecem. Embora a tecnologia possa promover a inclusão, também pode ampliar as desigualdades preexistentes, criando um paradoxo que necessita de atenção constante.
Para abordar esses desafios, é preciso que haja uma colaboração contínua entre governos, empresas e instituições educacionais para desenvolver políticas e estratégias que não apenas respondam às necessidades do mercado de trabalho, mas que também promovam a equidade e a inclusão digital. Isso inclui a implementação de programas de treinamento e reciclagem profissional, que possam garantir que as pessoas tenham as competências necessárias para prosperar na nova economia digital.
O futuro do trabalho está além das transformações tecnológicas, incorporando desafios significativos de desenvolvimento humano e social. Por isso, é necessário superar o abismo digital no Brasil, que é ampliado pela desigualdade de acesso à internet, infraestrutura inadequada e deficiências educacionais, para que estas barreiras não limitem nossas perspectivas futuras. A Associação Brasileira das Empresas de Software (ABES) desempenha um papel central nesse contexto, liderando iniciativas que visam superar esses obstáculos e fomentar um ambiente de trabalho mais inclusivo e equitativo.
Ana Cláudia Donner Abreu é Pesquisadora THINK TANK ABES – IEA/USP e Pesquisadora Sênior do Laboratório de Engenharia da Integração e Governança do Conhecimento do PPGEGC/UFSC. As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, os posicionamentos da Associação.
*Artigo originalmente publicado no ITForum em 29 de maio de 2024